Desmatamento reduz tamanho de peixes em Região Amazônica
Imagem: divulgação |
Ele conta que seus estudos tinham como
objetivo inicial avaliar os efeitos do desmatamento e da construção de
barragens sobre a fauna de peixes (assembleias). “Contudo, no decorrer da
pesquisa percebemos que o tamanho corporal dos peixes nos riachos em áreas
agrícolas era significativamente menor em comparação com os riachos em áreas de
florestas”, conta.
Sob orientação do professor Luis Cesar
Schiesari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes Ciências e
Humanidades (EACH), e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp), o cientista deu início às suas pesquisas no ano
de 2011. Além dos estudos nos laboratórios do IB, Paulo passou cerca de 18
meses em pesquisas de campo, residindo em Canarana. Lá, em colaboração com o
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o cientista realizou
coletas em seis riachos, sendo três localizados em áreas de florestas e outros
três em áreas agrícolas.
Nestas propriedades agrícolas é comum a
degradação das matas ciliares e a construção de barragens que represam trechos
dos riachos, seja para armazenar água para o gado ou para abastecer pequenas
hidrelétricas. Paulo conta que a região já conta com mais de dez mil pequenas
barragens. Os cursos d’água avaliados no estudo estão nas cabeceiras de rios
afluentes que formam o Rio Xingu (rios Tanguro e Darro), no centro-leste do
Mato Grosso. A região é uma das maiores produtoras de soja do País e está
localizada no arco do desmatamento amazônico.
Redução de peso
Diversas alterações na fauna de peixes foram
observadas nos riachos em áreas agrícolas e relacionadas a alterações
ambientais. Paulo cita como exemplo uma espécie de rivulídeo, parente dos
“killifishes” de aquário, que mede menos de 4 centímetros (cm) e aumentou em
abundância nos riachos agrícolas. “Isso ocorreu devido a alterações das
características naturais dos riachos. Após o desmatamento, as margens desses
córregos são invadidas por gramíneas (Brachiarias) que reduzem a profundidade e
criam um ambiente onde os predadores dos rivulídeos não conseguem alcançá-los,
o que permite sua proliferação”, conta.
Em contrapartida, espécies que eram comuns nos
riachos desapareceram das represas. “Ao menos três espécies de pequenas
‘piabas’ que eram comuns em trechos de água corrente não foram encontradas em
trechos represados”, conta.
Entretanto, a constatação que mais chamou a
atenção foi a de que quatro das seis espécies mais abundantes nos riachos
estudados diminuíram de tamanho (em massa), entre 44% e 57%, nas áreas
agrícolas. “É provável que o aquecimento da água seja responsável, ao menos em
parte, pela redução de tamanho dessas espécies” acredita.
Medições feitas em campo mostraram que nos
riachos de florestas e ainda não alterados em suas características as temperaturas
da água eram, em média, entre 24 graus Celsius (°C) e 26°C. “Já nos riachos em
áreas agrícolas, nas horas mais quentes do dia, as temperaturas atingiram até
35°C”, descreve. Para testar essa hipótese, Paulo realizou um experimento em
laboratório no Departamento de Fisiologia do IB em colaboração com o professor
Carlos Arturo Navas Ianini.
Lá, foram criados peixes (da mesma espécie de
rivulídeo citada) em temperaturas semelhantes às dos riachos agrícolas e de
florestas. “Os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos
agrícolas perderam massa, diminuindo de tamanho, enquanto os peixes criados em
temperatura semelhante às dos riachos de florestas cresceram”. A pesquisa não
investigou os mecanismos fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos
peixes, mas constatou que a temperatura da água é um fator preponderante. Paulo
ressalta que este pode ser o primeiro estudo a fazer a relação direta entre a
redução de tamanho dos peixes e o aquecimento provocado pela conversão de
florestas em áreas agrícolas. “É possível que isto esteja acontecendo ao longo
de todo o arco do desmatamento amazônico e que venha a causar perdas de
biodiversidade”.
Nenhum comentário